adj. 2 gén., que cola ou adere sem necessidade de ser humedecido

quinta-feira, agosto 25, 2005

A treta dos coletes

Muita gente já falou sobre os novos coletes reflectores. Falou-se sobre a sua utilidade, sobre os modelos terem que estar de acordo com as normas europeias, sobre as cores, e até sobre a nova moda de os colocar a decorar o banco do passageiro.

Supostamente os coletes servem para que os condutores e passageiros, caso tenham que sair do seu veículo, por algum motivo inesperado, sejam bem vistos pelos outros condutores de forma a (segundo os legisladores) "alcançar uma redução em 50% das mortes nas estradas".

Caso não tenham dado conta, eu iniciei a frase anterior com o advérbio "supostamente", isto porque eu pretendo provar que estas normas têm um efeito exactamente contrário ao que se pretende.


Ora sigam o meu raciocínio imaginando o seguinte episódio (não será tarefa muito difícil visto que o irão certamente reconhecer):

21.30h, o Sr. Manuel, a D. Maria e os dois filhos dirigem-se a Lisboa, pela autoestrada, vindos das anuais férias no Algarve. Como todo o português, não pode falhar a tradicional viagem no último dia de férias. A meio, os putos, que vão no banco de trás, reparam que o porta-bagagens vai aberto. A D. Maria começa a gritar para pararem já ali porque não quer sequer imaginar perder nem um exemplar das dezenas de pares de sapatos que levou para os 15 dias de férias que "não couberam na mala por causa da roupa nova que comprei". Só para não ouvir a mulher o Sr. Manuel lá acede a desligar o telemóvel (sem auricular ou sistema mãos livres), e aproxima-se da berma. Assim que coloca a mão no manípulo para abrir a porta volta a ouvir os gritos da D. Maria: que deve levar o colete obrigatório, senão "ainda levas com uma multa ainda por cima nestasalturasabrigadaestáportodoolado!".
Vá, adivinhem onde está o colete. Pois é: (em coro) nas costas do banco do passageiro! Quem é que lá vai sentado? A D. Maria. Como devem imaginar, a D. Maria não podia ser uma morena esbelta, tinha que ser uma loira platinada com alguns (bastantes) quilos a mais. Ela bem se esforça para retirar o colete do banco, mas tem que se render às evidências: tem que sair do veículo para o conseguir fazer. Coisa que faz em seguida sem se preocupar com os automóveis a passarem a 160km/h. Depois desta operação volta a entrar e entrega o colete ao marido.

Durante este tempo todo há que ter em conta que, no banco traseiro, os dois putos já desataram à dentada porque "ele deixou cair de propósito o gelado em cima do meu vestido novo que sabia que era o meu preferido, isto só para se vingar de eu ter deixado aquele cão que estava na praia roer o leitor de mp3 dele, sem querer claro!"
Entretanto o Sr. Manuel sai, veste o colete e dirige-se à traseira do carro.

Agora pensem lá o que é os outros condutores fazem ao verem uma cena desde tipo:
Os que se encontram perto travam a fundo para ver o que se passa: "Deve ser algum acidente, acho que vi sangue nos vidros traseiros!"
Os que vêm mais afastados abrandam também porque conseguem ver um colete reflector bem lá do fundo. "Deve ser a polícia que está a fazer uma operação stop"
É claro que algum dos automóveis que passam bate no da frente o que origina mais carros parados na berma e mais coletes reflectores: engarrafamento certo.

Epílogo:
Os poucos carros que conseguem passar incólumes à situação passam a 180km/h pela verdadeira operação stop parada apenas 3km à frente por pensarem que é outra cena semelhante à anterior.

Conclusões a retirar da história (para quem não tenha percebido):
1. Os coletes originam mais engarrafamentos (e, consequentemente, mais acidentes) porque se conseguem ver a uma distância maior e o português não consegue resistir a assistir à desgraça alheia.
2. Com tanta discussão por causa dos modelos dos coletes não podiam ter escolhido coletes diferentes dos usados pela brigada de trânsito? Se se chegou à conclusão que os agentes da autoridade deviam andar fardados para se distinguirem dos civis porque é que vamos agora retroceder?
3. De quem é que raio foi a ideia de colocar os coletes no banco do passageiro? E ainda pior, quem é que achou que essa ideia era boa e resolveu copiar?!